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domingo, 20 de agosto de 2017

Orixás Xapanã e Sapaktá (Obaluayê/Omulú)





    Dia 17 de Dezembro é o dia de São Lázaro, sincretizado a Xapanã e Sapaktá, 
na grande maioria das tradições do Batuque RS. Já no Candomblé e na Umbanda levam o nome de Obaluayê e Omulú e são associados a São Roque. Para algumas vertentes Xapanã e Sapaktá tratam-se da mesma divindade, sendo Sapaktá uma "passagem/qualidade/caminho" de Xapanã. No qual as divindades foram aglutinadas, no processo de formação dos cultos afro-brasileiros. Outras, são divindades distintas, com natureza similares e suas respectivas ressalvas de culto. Sapaktá também pode ser sincretizado por Nosso Senhor dos Passos (calvário).
   
    Na grande maioria, Xapanã é considerado um Orixá oriundo de Empê (atual Norte-Central da Nigéria), no território dos Nupés ou Tapas, sendo o rei de Empê. Guerreiro, velho, sábio, feiticeiro, temido e impiedoso que, seguido de suas tropas, percorria por todos os cantos do mundo. Ele massacrava a todos que se opunham à sua presença, seus inimigos saíam dos combates mutilados ou morriam de peste. Agindo de forma silenciosa, séria e precisa. O Olugbajé é nome ritualístico dado a seu banquete anual. Tendo como objetivo principal o prolongamento da vida e a promoção da saúde.

    Em grande parte, Sapaktá é um Vodun originário dos povos Jejê-Savalu. Rei da cidade Savalu na África, segundo alguns historiadores, Sapaktá foi o único governante que preferiu o exílio a se render aos conquistadores do Daomé. Sendo Sapaktá o grande Ayinon (rei) dos Jejê-Fom. Considerado filho mais velho de Mawu, ele é o dono do mundo (ayê). Controla a fertilidade da terra e suas transformações, as doenças contagiosas e suas deformidades, a duração da vida, a própria morte. É um Vodun misterioso, impulsivo, vingativo e astuto, tem pequenas similaridades com Orixá Exú/Bará dos Yourubás. O Andeyì é nome ritualístico dado a seu banquete anual. Tendo também, como objetivo principal, o prolongamento da vida e a promoção da saúde. Porém, a ritualística dos Jejê-Fom caracteriza-se por ser muito mais "fechada" e envolta em mistérios do que a dos Yourubás (Olugbajé).

    Muitos adeptos e pesquisadores buscam pela singularidade destas divindades, por serem muito estreitos seus ritos e denominações. Dentre elas, a mais coerente em meu entendimento, é a descrita por Roger Bastilde, no estudo das Religiões Africanas no Brasil. Onde Roger apresenta uma leitura de Omulú, como uma divindade daomeana que pune os que não lhe fomentam culto. Para estes, a divindade mandaria a varíola, despertando o medo e respeito dos iorubanos, no qual passaram a reverenciá-lo como o "Deus das Epidemias" e seu nome tornou-se tabu. Onde se "justificaria" o crédulo dos Yorubás com o Orixá Xapanã/Obaluayê/Omulú. 

    Dentre outras corruptelas, o nome Xapanã, vem de Sànpònná (Fon), idioma do povo Jêje do antigo Daomé, atual Benin, que significa "Dono da Terra". Trazendo a conclusão de que Sapaktá, Obaluayê e Omulú, seriam todos "codinomes" desta divindade, que não poderia ser chamada diretamente por seu verdadeiro nome, em respeito. Surgindo as identidades Xapanã/Sapaktá (Vodun/Jejê/Fom) e Obaluayê/Omulú (Orixá/Yourubá).

    Lembro que em solo africano, dentro dos próprios povos matrizes, existiam distinções em partes de seus ritos, incluindo nomes das divindades. Dificultando ainda mais buscar e formar uma relação estreita entre estas divindades. Em algumas mitologias, ainda, o culto do Sapaktá antecede ao sistema religioso de Oduduá, quando de sua chegada a Ifé, ressaltando o quanto este Vodun transcendeu. 

    Muitas incógnitas cercam estas possíveis origens, mas como Babalorixá, posso constatar, que em meus ritos junto destas divindades se transmitem energias bem distintas, perceptível até mesmo entre os mais novos iniciados nestas divindades.

     Contudo, no Batuque, Xapanã e Sapaktá, com Oyá/Yansã, dividem o axé no processo de desencarne, encaminhando nossa alma (emí) a um dos nove reinos de orún (céu), conforme mitologia dos Yourubás. Bem como, atuam em nossa defesa contra os espíritos obsessores (Aparakás, Kiumbas e Zombeteiros) e suas respectivas mazelas. São de suma importância nos preceitos de limpezas e descarrego. A cabaça (àkerègbè), a lança (òpá òkò), a vassoura (xaxará), a palha-da-costa (Ikó) e o cachimbo (kòkò), são alguns dos principais objetos de força e misticismo destes Orixás. O Maricá e a Figueira são as árvores consagradas a estes Orixás, bem como, o cachorro, a mosca e a formiga são seus animais representativos. Seu dia da semana é quarta-feira Xapanã e a segunda-feira para Sapaktá, sua cor é o roxo (Xapanã) e, vermelho e preto (Sapaktá). Não confundir com Lilás, que pertence a Nanã. Suas oferendas e sacrifícios, são enterrados no chão, no intuito de desfazer as mazelas, abençoando a terra/solo do terreiro ou casa.

    Na doença, Xapanã/Sapaktá, nos ensina através do sofrimento, o verdadeiro valor da vida, da compaixão, fazendo entender que dinheiro não é tudo, que na doença somos todos iguais, nos aproximando da fé.

    Vale lembrar que a "vassoura" foi concebida na tradição do Batuque, como "ferramenta de assentamento" e na forma de "objeto místico de descarrego" (conhecida popularmente como "vassoura de Xapanã"), devido a interpretação do uso do xaxará. Que vem a ser uma espécie de bastão que o Orixá traz nas mãos. Ele é feito de vários feixes de palha, enfeitado com búzios, contas e anéis de couro pintado de preto ou vermelho. Este instrumento foi interpretado como uma vassoura que varre o mundo dos vivos, que varre as epidemias, as mazelas. O seu interior é oco e o Babalorixá/Yalorixá ao construir o xaxará introduz em seu interior o axé destas divindades. As varetas que compõem o xaxará seriam referência à humanidade, aos indivíduos que estão sob o domínio, comando e proteção de Xapanã e Sapaktá. A palavra xaxará é composta do elemento "xaxá" que significa "pintas de varíola" e da sílaba "ará" que quer dizer "esfregar", "tirar", ou seja, "instrumento que varre/limpa a pestes".

    Em um de seus itans (lendas) que Xapanã/Sapaktá seria filho de Nanã, que o abandonou nas areias, dentro de um cesto/balaio, ainda bebê. Em decorrência de suas chagas incuráveis, espalhadas por todo seu corpo, por mais belo que o menino fosse, Nanã não suportou ver seu filho sofrer. Yemanjá, passeando nas areias junto da praia, o resgatou, encantou-se pelo bebê e lhe batizou de Xapanã, lhe livrando da morte, o criando como seu próprio filho. E do amor e leite materno recebido de Yemanjá, Xapanã teria curado a si mesmo, se tornando um respeitado, temido e belo homem. No qual todos os temiam, não ousando chamá-lo por seu verdadeiro nome, "Xapanã", e somente por Obaluayê (Rei da Terra) ou Omulú (Filho do Rei), tamanha grandeza deste Orixá. Por este mesmo itan (lenda), vem a passagem onde Xapanã veste e cobre-se de palhas, para esconder suas chagas, mesmo após curado. E Oyá/Yansã, muito curiosa, escondeu-se no mato, esperou Xapanã se aproximar e, com o poder de seus ventos, fez erguer suas palhas, deixando o rosto de Xapanã todo descoberto. Deste encontro surge a união destes dois Orixás, que se apaixonam e compartilham suas forças místicas.


Abaô Xapanã, Abaô Sapaktá - Atotô, ajuberô!



Axé, Pai Daniel de Oxum.



*imagens meramente ilustrativas, retiradas da internet (Google).

Orixá Òsányìn/Ossain/Ossanhã, Àrọ̀nì/Aroní e Agué



    Dia 16 de Agosto é o dia de São Roque, no Batuque RS, em minha tradição Jejê-Ijexá, é sincretizado a Òsányìn/Ossain/Ossanhã, senhor das insabas (folhas), misterioso, que ronda pela noite solitário. Junto de Àrọ̀nì/Aroní e do Vodun Agué fazem parte do grupo dos espíritos das florestas. Ligado aos feiticeiros ancestres, detentores e protetores dos segredos das florestas, sua natureza e tudo que habitam nelas. Por ser responsável pela perpetuação, Aroní é chamado de Olóbìkí (senhor que lança as sementes). Ele de fato é o Orixá de uma perna só, que utiliza de um cachimbo e, não Ossain! Mestre das florestas impenetráveis, alguns ancestres atribuem o carvão como seu mineral de poder e magia. No Batuque Aroní e Agué foram aglutinados ao culto de Ossain, assim como ocorreram com outros Orixás no Batuque e no Candomblé, o que acabam por confundir alguns adeptos. O Vodun Agué, provem da família do Vodun Sapaktá (Jejê/Fom), no qual se atribuiu ao culto de Ossain o poder da terra, da medicina (curandeiro), da caça, da fartura, trazendo abundância aos seus devotos e, do instinto protetor e guerreiro, características fortes de Agué. Vodun este, que traz características muito próximas aos Orixás (Yourubás): Odé, Ogum e Xapanã.

    Acredita-se que a força de culto e iniciação aos filhos de Ossain, no Batuque e Candomblé, tenha surgido a partir desta fusão com Vodun Agué. Pois em grande parte da Nigéria, não existe iniciados em Ossain e Aroní (Yourubás). Ambos são tido como espíritos guardiões, detentores dos segredos das folhas e ervas, onde os anciões que detém seus conhecimentos, fazem seu uso para ajudar sua comunidade e seus ritos. Ao contrário do Vodun Agué (Jejê/Fon), que tem seus vodunsis (iniciados/consagrados).   

    Tornando assim, Ossain no Batuque, o mestre e detentor dos segredos das folhas e ervas, onde traz junto de sua inseparável cabaça (àkerègbè). É o curandeiro, feiticeiro solitário, provedor de fartura e abundância, para aqueles que buscam seu auxílio. Sua importância é fundamental nos ritos africanos, desde um simples ritual de iniciação até o assentamento de um Orixá começa com a licença e o uso de suas ervas. Liberando as propriedades mágicas das folhas nos rituais dos Orixás. Com influência do Vodun Agué, Ossain rege a agricultura. No orumalé divide com Xapanã/Sapaktá o axé sobre a saúde física e as deformidades, o que lhe concedeu o título de "médico dos Orixás". Já com Oxum Demum/Ademum/Ìjimu, divide o axé sobre a riqueza do dinheiro de papel e a abundância. Não confundir com moeda (aço) corrente! O coqueiro é a árvore consagrada a este Orixá, bem como, o cágado, a tartaruga e o galo polaco/pescoço pelado são seus animais sincretizados. Seu dia da semana é segunda-feira e sua cor é o verde e amarelo. 

Ewé ô - Ewé assá! Ossain! Ewé ô Aroní! Ewé ô Agué!


Axé, Pai Daniel de Oxum.



*imagens meramente ilustrativas, retiradas da internet (Google).

Câmara de Vereadores de Alvorada/RS



No último dia 15/07/17 estive presente na Câmara de Vereadores de minha cidade, juntamente da prestação de contas do Vereador Schumacher. Estavam presentes na ocasião, dentre outros, a Deputada Estadual Stela Farias e o Deputado Federal Paulo Pimenta. Participando e buscando sempre o devido espaço e respeito para o povo de terreiro e o bairro onde moro.